Já fazem alguns dias que eu gostaria de escrever esse post.
Como é um assunto que me interessa, queria dar o tempo devido a ele, já que escrever às pressas acaba desvalorizando-o.
Para quem não conhece ela, é a idealizadora do MASP.
Às vezes paro para pensar que, como as mulheres foram inseridas tardiamente no mercado de trabalho, são poucas as que receberam o devido louvor pelo seu trabalho. Em algumas áreas isso aconteceu mais em outras menos. Sem querer entrar no discurso feminista, mas já entrando, penso que o movimento nasceu de forma errada. Ao invés de "igualdade", o que sucedeu foi o acúmulo de atividades em uma só pessoa. Equilíbrio é tudo, e buscar ele quando estamos indignados nos leva ao oposto dele.
Sem mais divagações, vamos à história dessa arquiteta.
Nascida italiana e posteriormente naturalizando-se brasileira, Lina Bo se formou em Arquitetura na sua cidade natal, Roma e daí partiu para Milão, onde trabalho com Giò Ponti. Detalhe: isso aconteceu um pouco antes da Segunda Guerra Mundial.
Concattedrale de Taranto. 1964-70 |
Igreja Sao Francisco, em Milao. 1964 |
E aqui abro a primeira parêntese:
Giò Ponti se formou em Arquitetura logo após reprender os estudos, interrompidos pela Primeira Guerra Mundial. Literalmente, outros tempos. Pensar que você tem que interromper tudo, porque estão bombardeando o seu país, e além disso ir lutar por ele... Nos primeiros anos teve sociedade com outros arquitetos, até começar a cuidar das exposições bienais e trienais. Ainda no final da década de 20 ele fundou a revista Domus, atividade editorial que teve que ser abandonada por causa da Segunda Guerra. Eis aí ela de novo.
Parêntese da parêntese: a revista Domus, juntamente com a Casabella acabou sendo o centro cultural da arquitetura e do design italiano na segunda metade do século XX.
Continuando com o nosso amigo Ponti, em 1933 ele organiza a primeira mostra na Triennale di Milano. Na mesma década desenha os trajes para o Teatro alla Scala, participa da ADI (Associação do Desenho Industrial), sendo um dos encorajadores do premio Compasso d'Oro, e em 1936 passa a ser professor da Faculdade de Arquitetura no Politécnico de Milão.
até o ano passado o Pirelli era o edificio mais alto de Milao. Sede do governo da regiao da Lombardia. Icone da cidade e do modernismo italiano. 1956-1961 |
Voltando à Lina,
Depois de trabalhar com Ponti, ela abre o seu próprio escritório. Porém ele é destruído durante um dos bombardeios em 1943.
Segunda parêntese:
Vale lembrar que quando a Itália (Mussolini) resolveu passar para o lado dos aliados, foi severamente atingido pelas forças alemãs. E Milão, sendo ao norte, não foi poupada. A corso de Porta Ticinese, muito perto do centro e do Duomo, teve grande parte dos seus edifícios detruídos, além da estrutura metálica da Galleria Vittorio Emanuele.
Depois disso, Lina começou a atuar ativamente na política, com o Partido Comunista Italiano, documentando a destruição que tomou a Itália nos anos da guerra ao participar do Congresso Nacional da Reconstrução.
Com Bruno Zevi ela criou a revista setimanal 'A cultura da vida'.
Em 1946, já casada com Pietro Maria Bardi, ela se transfere para o Brasil, onde a sua criatividade explodiu! Em 1951 ela, já cidadã brasileira, projeta a Casa de Vidro, no então novo bairro Morumbi.
A Casa de Vidro, residencia do casal, quando construida ficava em terreno todo aberto no entao recém bairro Morumbi. |
Terceira parêntese:
Uma das primeiras obras modernistas no Brasil, a Casa de Vidro mudou o conceito de morar. As paredes até então prevalentemente opacas, são totalmente transparentes. O habitar se torna público, enquanto que o espaço público se transforma em parte do privado.
Mais tarde, através de uma idéia lançada por Assis Chateaubriand, Lina projeta o famosíssimo MASP. Super hiper modermo, brinca com o conceito da arquitetura velha e tradicional da Europa, ao mostrar que uma super estrutura pode suportar todo um edifício inteiro no ar.
MASP - Museu de Arte Assis Chateaubriand. 1956-1968 |
O colorido e a quebra da verticalidade em Sao Paulo. |
Uma mulher de caráter muito forte, uma sua frase célebre acaba remetendo ao que falei antes do feminismo: "Como ser feminista? As feministas tem voz de galinha e falta de conteúdo"
Concordo com ela. Aliás, nunca entendi porque para mostrar o feminismo, queimaram o sutiã!!!! Uma peça utilíssima. Anatomia não tem nada a ver com forma de pensar e queimar algo que tem a sua função me parece só burrice, ou melhor, parece que aquelas que queimaram eram as primeiras a se considerarem objeto. Enfim, assunto polêmico.
Outra obra muito importante da Lina foi concluída em 1990, o Sesc Pompéia, que ainda não tive oportunidade de visitar.
Sesc Pompeia - arquitetura moderna e ludica. 1990 |